segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Bruxelas - Parte 2

Depois de já ter contato sobre cerveja e Heysel na Parte 1 desse post, é hora de falar sobre o centro e, minha parte favorita, comida!

Um tour pelo centro de Bruxelas

Eu sou fã confessa e assumida de "free walking tour". Essa nova moda do turismo mundial me conquistou. O primeiro que fiz foi em Santiago (Chile) e de lá pra cá nunca fiz um free tour que me deixasse entediada, nunca me arrependi de fazê-lo e sempre dei o que podia ao final. Uma vez na Bolívia pagamos um fortuna num passeio de barco pelo lago Titicaca que foi uma porcaria, no "free walking tour" num tem essa.

Para que não conhece a moda o lance é assim: um monte de gente se reúne num lugar bem turístico e dali saem os tours. Na maioria dos lugares que eu fui eles disponibilizavam tours em inglês e espanhol. O tour é "gratuito", entre aspas porque é a base de gorjeta e gorjeta sugerida é 10 moedas (em caso de dólar, libra e euro) ou 10 dólares (em caso de qualquer outra moeda, principalmente as menos valorizadas que o dólar). No final do tour o guia vai parar num lugar lindo em que todos possam sentar e pedir gentilmente pela gorjeta. Só que se você não gostou pode simplesmente sair andando.

E é ai que acho que mora a magia no negócio. O cara só recebe ao final e pode receber pouco ou nada. Você pode abandonar o tour pela metade. Então os guias realmente se esforçam para fazer do passeio uma experiência relevante, divertida e prazerosa. 

Na Europa o Sandsman (eu adoro esse nome) é um dos maiores e mais conhecidos e está presente em 18 cidades e não me pagou nada pela propaganda. Ahahaha! É free... Mas existem outros milhões de free tours por ai e é só procurar o do lugar pra onde você vai antes de ir.

O tour de Bruxelas foi ótimo e muitas das coisas que vou contar e mostrar pra vocês eu aprendi lá ou vi enquanto andava.

Um pouco de História

Pra quem não sabe, a Bélgica um dia foi parte do Reino dos Países Baixos (a.k.a. Holanda) até 1830. Foi nesse ano que os Belgas saíram às ruas para protestar num quiproquó em envolve ópera, religião e monarquia (no caso a monarquia Alemã, a Francesa, a Holandesa e sei lá mais qual). E é por isso que na Bélgica falam-se oficialmente francês, alemão e holandês. Só que, eles não chamam o holandês de holandês (apesar de todo mundo que conhece o idioma dizer que é) eles chamam de Flemish, que é o Holandê bega. Sacou?

Quando eles decretaram a liberdade dos neerlandeses (eu acho esse nome hilário) os muito bonzinhos dos Belgas resolveram que teriam um rei mesmo assim e eles escolheram um rei, o Leopold I, que era Alemão (vai ver por isso a bandeira da Bélgica ser a bandeira da Alemanha deitada). Só que eles são bonzinhos, mas não são otários. Antes de colocar o Léozinho no poder eles criaram uma constituição super, mega neutra. Até hoje os reis da Bélgica juram seguir a constituição e se não jurarem não assumem o poder.

É essa postura de neutralidade que fez com que a Bélgica acabasse por ter inúmeros prédios da União Européia espalhados pela cidade. Afinal, a União Européia foi uma forma de interligar as economias europeias e torná-las dependentes a tal ponto que a terceira guerra mundial seria destrutiva pra todos e pra que isso desse certo eles precisavam de um país que não fosse ficar tomando partido pra colocar todos os políticos, né? Infelizmente eles não previram que isso também faria com que uma crise na Grécia prejudicasse tanto o continente todo... mas isso fica pra outro post.

Manneken Pis

Um belo dia, nos idos de 1618, alguém notou que Bruxelas precisava de uma fonte de água potável. E os belgas, dotados de um humor peculiar e sádico, resolveram que seria uma senhora piada que a fonte (em mil seiscentos e dezoito! Não agora...) fosse um menininho fazendo xixi.

E assim foi, estátua de bronze de uma menininho saradinho com o pipi de fora foi feita e colocada de fonte. 

Hoje o Manneken Pis (que de acordo com a wikipedia significa "pequeno homem que faz xixi" em Marols, um dialeto holandês de bruxelas) é um dos pontos turísticos mais lotados de Bruxelas. Impossível tirar uma foto com o rapazinho sem milhões de turistas junto a você.

E o tal do rapazote foi roubado algumas vezes. Uma delas pelos habitantes de Geraardsbergen que ficaram putos com a fama do garoto de Bruxelas quando o deles era mais antigo e menos famoso. A outra (pra mim a melhor de todos) por soldados franceses do exército de Napoleão. E a parte mais legal é que o tio Bonaparte devolveu o ícone da cidade a pedido dos belgas e ainda fez do carinha um Cavaleiro da Legião de Honra, com direito a guarda pessoal e tudo. E assim, todos os soldados franceses que por ali passavam, tinham que bater continência para o Manneken. O Napoleão tinha humor bem belga.

O garoto é tão famoso que a prefeitura de Bruxelas emprega um funcionário para criar e confeccionar roupas para ele e vesti-lo duas vezes na semana. É tradição que líderes de Estado em visita à Bélgica levem uma roupinha pra ele. Na Grand-Place tem um museu com todas as roupinhas. 

Manneken Pis (vestido de sei lá), Maíra,
Octaviano e 1 milhão e meio de turistas
Como ser turista em Bruxelas

Comece visitando a Grand-Place, coração do centro histórico de Bruxelas, é o local do antigo mercado de Bruxelas. Seus prédios foram bombardeados várias vezes até ela atingir a forma que tem hoje. É no seu centro que a cada 2 anos (em Agosto) um tapetes gigantes de begônias é feito com um tema eleito. É de babar pelas fotos da internet.

Ali também está um restaurante que há muito tempo atrás recebeu uns tais de Marx e Engels que escreveram um livro que ficou famoso e gerou muuuuuita polêmica em anos vindouros.

Aproveite toda a região, tem muita coisa ao redor: sorvete, chocolate, batata frita, feirinha, loja do Tintim, restaurantes, bares, Delirium, sebos, livrarias só de quadrinhos. Faça a festa.

Grand-place com o tapete
Fonte: Filothea Web Team
Dali vale a pena seguir até a catedral de Santa Gudula (também nunca tinha ouvido falar dela). Em estilo gótico a catedral é um espetáculo de luz por dentro e tem detalhes maravilhosos espalhados nos vitrais e paredes.

A fachada da Catedral
Se anime para a caminhada e vá até até o Parc de Bruxelles e o Parc du Cinquantenaire, aproveite para gringar na grama. Sente, descanse os pés acabados, faça um pic-nic se estiver sol. Eu adoro como os Europeus no geral valorizam o sol e os parques. É uma delícia tomar a fresca na grama, curtindo o ócio.


Parc de Bruxelles com a Julia
Parc de Bruxelles













Ao redor do Parc de Bruxelles você ainda vê o Palácio Real (o de mentira, já que eles vivem lá Heysel).

Dali, siga para a "praça dos museus" (nome informal, mas só tem museu) e se você gosta de Magritte vá ao museu dedicado inteiramente a ele. Se preferir música, vá ao museu de música. De qualquer forma, preste atenção à fachada do museu da música, ela é muito legal!
Museu da Música...
... agora com o sol atrapalhando!
Do museu da música você já vai conseguir ter uma das melhores vistas de Bruxelas, com o topo do Hotele de Ville (na Grand Place) aparecendo ao fundo. E bem na sua cara o mont des arts, que é um lugar lindinho de tudo (cuidado com pessoas pedindo assinaturas, elas falam que querem só a sua assinatura e depois te pedem uma doação).
A vista do Mont des Arts

Quadrinhos

Os Belgas levam esse lance de quadrinhos muito a sério. Sabiam que a Bélgica tem uma associação nacional de quadrinhos? Pois é, tem. E um belo dia um político estava andando pro Bruxelas e notou que aquele monte de outdores de propaganda não combinavam com o lindo centro histórico da cidade e criou uma lei que acabou com os outdores. Só que embaixo de alguns deles estavam paredes mal cuidadas de tijolos que passaram anos escondidas.

O que o pessoal fez? Ligou pra tal da associação e encomendaram um monte de quadrinhos para cobrir as paredes feiosas. Todos esses murais oficiais tem na parte de baixo uma placa com nome, ano, informações da obra e um mapa para os demais murais da "rota das tirinhas de Bruxelas". Não é legal?

Esse fica bem perto do Manneken Pis e
 dali você já consegue "pegar
o mapa" para procurar os demais.
No meio do reduto gay de Bruxelas esse mural
já deu o que falar... ai resolveram acabar
com a polêmica (do jeito errado) e colocaram
um brinco e uns peitinho para acabar
com as dúvidas da sexualidade do Broussaille
 
E se você gosta de quadrinhos e estiver em Bruxelas não pode deixar na passar na Tintim Boutique e se não estiver na Bélgica pode clicar em boutique (ali atrás) e comprar pelo site mesmo (novamente eu não estou ganhando nada com isso! Ehe). O lugar é cheio de brinquedos, itens de colecionador e, lógico, de livros do meu herói belga favorito: o Milú.

OBS - no quesito heróis belgas que existem de verdade, o meu favorito é o bisavô do Octaviano que lutou na guerra e até medalha recebeu. 

As delícias de um país creme de leite

Para fins meramente "mairísticos" eu dividi o continente Europeu em 3 facções culinárias: os países azeite de oliva, os países creme de leite e os países batata. Não entendeu? Explico. Os países azeite de oliva são aqueles cuja culinárias muito me apetece, tudo vem regado de azeite e muito bem temperado. Comida Italiana, Espanhola, Portuguesa... ai, deu água na boca só de pensar.

Os países creme de leite são aqueles de tradição culinária refinada e cheia de creme pra todos os lados, até o momento França e Bélgica. E os países batata... meu amigo, todo o norte da Europa é batata - Alemanha, Rússia, Ucrânia, Dinamarca, Suécia. Faz frio e ai os caras comem quantidades absurdas de batata (daí o nome), fritura, carnes cheias de gordura (eles conseguem fazer até filé de peixe ficar gordo), muita, muita manteiga e uns temperinhos meio blá. 

Deu pra notar que os países batata não são minha preferência, né? A Escócia é um país batata por essência. Como comem batata gi-zuis! 

Eu ainda não terminei de classificar todos os países, preciso conhecer melhor certos lugares. O meu pouco conhecimento de comida Suíça me deixa na dúvida entre batata e creme de leite. Conforme a teoria for se elaborando eu compartilho maiores informações com vocês.

Enfim, a Bélgica é um país creme de leite. Devido ao frio eles tem um pézinho na batata, mas é só um pézinho, nada grave. Então voltando a falar da culinária belga.

Especialidade: Batata Frita

Você foi à aula de inglês e te contaram que batata frita em inglês é 'french fries' e você, como eu e mais um monte de gente, caiu e achou que as nossas coleguinhas que caem bem com tudo eram francesas. Não são. 

Durante a segunda guerra os soldados americanos, com seu peculiar senso de geografia mundial, chegaram na região da Bélgica e comeram as batatas fritas e amaram. Eles precisavam nomear a recém descoberta iguaria e ai notaram que todo mundo falava francês e... voilà! Em prol dos coitados lembremos que a Europa estava em guerra e portanto fronteiras eram algo complexo.

Simplesmente qualquer barraca de batata na rua vende a melhor batatinha que você já comeu na vida. Esquece aquela idéia sobre uma certa rede de fast-food, nhá! Aquilo é que é batata, meus amores. Ela é frita duas vezes, a primeira em óleo morno para cozinhar a batata; a segunda em óleo fervendo para deixá-la crocante. E ela fica crocante, sequinha, divina!

Don Quixote, Sancho Panza, Octaviano
e o pacote de batatas na mão.
Notaram o semblante de felicidade?
Especialidade: Waffle

Primeiro peço desculpas pela ignorância, eu tenho certeza que isso tem nome em Português. Só não tenho idéia de qual seja. Ah... e peço desculpas de novo, mas eu ainda escrevo idéia com acento e é isso ai.

Enfim, waffle. Em 3 versões: massa neutra e polvilhada de açúcar, o Bruxeles cuja massa já doce e ele ainda vem polvilhado de açúcar e o turístico que consiste em qualquer uma das duas massas só que com frutas, sorvete, chantili e tudo que você puder sonhar em cima (menos doce de leite argentino, que eu devo dizer que achei que cairia bem).

Eu preferi o de Bruxelas só com açúcar. A olho-maior-que-a-barriga aqui pediu logo um de morango com chantili. Fica demais, muito doce e o troço vai desmanchando e você mal sente o sabor daquela massa sublime. Eu recomendo comer os dois e tirar suas próprias conclusões.

Essa iguaria é encontrada em qualquer barraquinha de rua. Ao lado do menininho do xixi de várias com preço razoável.

Para turistas... exagero em forma de waffle
O local, apenas polvilhado em açúcar
A Maíra se babando igual criança quando o
waffle ficou mole de tanto chantili e morango
Especialidade: Moules Frites

Em São Paulo a gente chama moules de marisco (ou pelo menos eu chamo), mas a gente também chama biscoito de bolacha, gostamos de mandioca... então pra evitar dúvidas eu vou chamar de marisco e vou colocar a foto! 

Mariscos cozidos acompanhados da tal da batata. Já vou dizer que a batata do restaurante num é nem de longe igual a batata das barraquinhas de batata. Infelizmente. Mas os mariscos são cozidos em vinho branco, cerveja, queijo belga... tem uma infinidade de opções. Demos um certo azar que não é época de marisco e eles estavam meio pequenos, mas ainda assim eu amei. Muito saborosos e sem aquele amarguinho que alguns deixam no final. Fora que combinam muito com cerveja.

O que fica difícil é indicar restaurantes, o guia disse que são todos bons e na mesma faixa de preço. Os restaurantes ficam todos um ao lado do outro e os garçons te atacam na rua pra você sentar e comer no deles. Eu digo olhe o que você vai mais com cara e se joga.

Uhn... o meu era com queijo roqueford o do Octaviano com cerveja
Eu disse que caia bem com cerveja.
Especialidade: Chocolate

Eu não vou falar nada não. Esse tipo de coisa dispensa comentários. É o melhor chocolate do mundo, PONTO! Não sei se são as leveduras, um tipo especial de cacau da Bahia, uma vaca geneticamente modificada.... tanto faz. O chocolate Belga é perfeito. 

E tem vários tipos, com quantos porcento de cacau você preferir.

É isso aí...

Antes de ir, eu pedi socorro no Facabook e, minha querida prima Marília (obrigada, Má) me recomendou - por recomendação de uma amiga dela (obrigada amiga), ficar em Saint-Gilles, Ixelles, Schaerbeek, 1000 Bruxelles. Repasso a dica, pois foi muito boa. E quanto mais perto da grand-place melhor.

Espero que tenha empolgado vocês a ir pra Bruxelas, amei a cidade recomendo muito dar uma esticadinha até lá se você estiver nas redondezas.

Um comentário:

  1. Adorei o post! Adorei a cidade! Estou escrevendo sobre o free walking tour que fiz. O primeiro texto já está em bit.ly/meleva_grandplace Bjsssss

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